O débito técnico de hoje é a urgência de amanhã

Os débitos técnicos podem afetar profundamente o negócio

O débito técnico de hoje é a urgência de amanhã

É comum que tenhamos que fazer decisões difíceis de priorização na construção de software. Não apenas priorizações de produto, mas também priorizações técnicas, onde soluções perfeitas precisam esperar para dar lugar para soluções incompletas, mas que resolvam o problema imediato. Quando isso acontece, é muito comum que procrastinemos a continuação e a evolução dessas soluções técnicas. E essa é uma das maneiras que os débitos técnicos nascem.

Débitos técnicos são parecidos com cartão de crédito: se você não pagar a fatura, os juros aumentam seu débito, até o ponto que não há como pagar a fatura completa, forçando você a parcelar a dívida. Outro ponto é que você poderá ficar com o nome sujo na praça, acarretando uma série de problemas de curto, médio e longo prazo para o produto.

Por que priorizar débitos técnicos é algo muito importante

No cartão de crédito você até tem a opção de ficar inadimplente, agora, no mundo de construção de software, ficar inadimplente pode significar risco de continuidade do negócio.

Um exemplo prático: aqui na Vindi temos uma atenção redobrada com as atualizações de segurança dos frameworks que usamos. Já deixamos o Rails desatualizado durante muito tempo e uma versão mais atual corrigiu uma falha de segurança muito crítica, que para o contexto do mercado financeiro, é imprescindível que corrigíssemos. Como não tivemos a rotina de atualizar o Rails assim que as novas versões eram publicadas, tivemos que ficar quase um mês em um processo de atualização para alcançar a versão mais atual, com o objetivo de evitar riscos de funcionamento da plataforma.

Decidir não pagar esse débito de falha de segurança era assumir um risco de dívida que não quisemos apostar, contudo, pagamos muito caro, tendo que parar o time durante muito tempo, atrasando possíveis melhorias e novidades que fariam o produto entregar mais valor.

Outra razão bastante importante para priorizar esses débitos é que em algum momento você vai ouvir a seguinte frase: “Era pra essa alteração ser muito simples, mas a arquitetura do nosso sistema é toda acoplada e tem várias camadas, então quando mexemos numa camada, pode ter impacto em todas as outras, ou uma simples alteração vai demorar dias ao invés de horas pra ser feita.”. Quando chegamos nesse nível já podemos saber que o lead time das histórias poderia ser menor, mas não é pela quantidade de débitos técnicos que foram deixados pra trás. O efeito disso para o negócio é perder timing e competitividade, porque alterações importantes e novas funcionalidades vão demorar um tempo maior para irem pra produção. Aqui na Vindi  também passamos por isso.

No final, o preço vai ficar muito caro e acabar prejudicando o negócio em proporções que podem ser desastrosas.

Duas técnicas para priorizar débitos técnicos sem custar tão caro

Na Vindi utilizamos duas técnicas para pagar débitos técnicos continuamente e evitar que a conta fique muito cara.

A primeira forma que encontramos, é o que chamamos de bloqueio tecnológico. Toda história de usuária antes de ser feita passa por uma etapa de especificação. Nessa etapa, as engenheiras discutem sobre a solução técnica daquela história e identificam se aquela parte do código precisa ser melhorada, tanto em questão de qualidade do código, quanto em qualidade e cobertura dos testes. Se a qualidade de um desses dois quesitos for baixa, definimos que a história tem um bloqueio tecnológico e a gente paga esse débito criando uma outra história técnica que será feita antes da história de usuário. Dessa forma a gente sempre paga e evita débitos técnicos.

A segunda tem relação com o nosso kanban. Como usamos esse método para gerenciar nosso fluxo de trabalho e medimos todo o fluxo, nós sabemos qual é a capacidade de WIP (work in progress) de cada equipe. Dessa forma, para as equipes que identificamos que a conta está ficando alta demais, decidimos ter um backlog técnico e um backlog de negócio, e criamos uma raia no kanban onde só podem passar histórias técnicas com uma capacidade de WIP que nos permita manter o equilíbrio entre técnico e negócio, como na imagem a seguir

Nesse exemplo, a raia de itens técnicos tem um WIP (Work in Progress) máximo de 1 e a capacidade do sistema todo é 3, deixando 2 para o backlog de negócio. O backlog técnico é totalmente priorizado e gerenciado pelas engenheiras, que decidem o que está mais crítico naquele momento e atrapalhando o lead time das histórias.

Essas duas formas tem se mostrado bastante efetivas, pois acompanhamos nosso lead time de perto e ele tem uma distribuição pouco dispersa e com uma média móvel saudável.

Tá, mas como convencer a liderança a pagar o preço?

A melhor maneira que encontrei para convencer a liderança de que priorizar débitos técnicos é algo bastante importante foi mostrar o histórico do lead time das equipes e como estávamos perdendo velocidade no negócio. Tínhamos a dispersão controlada, mas num nível alto demais, então muitas alterações que seriam bem simples do ponto de vista técnico, demoravam muito e estava claro pra gente que era nossa arquitetura.

Outro ponto que funcionou foi levantar e explicar os riscos de negócio que tínhamos não priorizando as atualizações dos frameworks e outras partes do código que nos colocavam em riscos como vazamento de dados por exemplo. A partir desse dia, começamos a trabalhar junto com a equipe de segurança para levantar as brechas de segurança continuamente e criamos uma rotina de priorizações dos frameworks antes que essas brechas se tornassem um problema grave.

O débito técnico de hoje é a urgência de amanhã

Algo que as empresas precisam entender é que débitos técnicos naturalmente vão surgir no negócio. Tecnologias se atualizam com frequência, novas formas e abordagens de escrever código surgem e a maneira como o software foi desenvolvido nem sempre atenderá a velocidade que o negócio precisa. É por isso que é muito importante que débitos técnicos sejam considerados como demandas de investimento pelo negócio e sejam priorizados.

A função da PM nesse caso é encontrar o equilíbrio máximo que ainda permita que o negócio consiga de fato resolver os problemas dos clientes e atinja os objetivos, mas que evite que os débitos técnicos se tornem uma urgência e custam muito mais caros para ser pagos do que se estivessem sendo priorizados ao longo do tempo.

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