Web 3.0. O nome é clichê, mas ela já está aqui
Uma web realmente descentralizada que não vai mudar apenas a forma com que nos relacionamos, mas principalmente como consumimos e percebemos o mundo digital
Meu primeiro blog foi feito em 2001. O domínio era diegoeis.cjb.net. Por algum motivo o Wayback Machine não consegue me mostrar nenhum dos screenshots. O que eu consegui abrir estava sem CSS, então, impossível de ver como era o design. Mas os links estavam funcionando. Esse meu primeiro blog não falava absolutamente nada de interessante. Esse era o início da Web 2.0.
A Web 2.0 marcou a época onde as pessoas ganharam voz. Depois dos primeiros early adopters, que eram basicamente pessoas que sabiam programar e tinham intimidade com tecnologia, as pessoas “comuns” se aproximavam cada vez mais do poder de consumir conteúdo de outras pessoas “comuns”. Redes sociais e ferramentas como o Blogspot ou Blogger possibilitaram que qualquer um pudesse publicar conteúdo na web sem qualquer fricção e o resto é história. Foi na Web 2.0 que novos modelos de negócio baseados no comportamento e nos dados/conteúdos que as pessoas criavam foram criados.
A partir do momento que o conteúdo era gerado dentro de cercadinhos digitais como o Orkut, Facebook, Blogspot, Blogger, Twitter, Friendster, MySpace e qualquer outro nome nostálgico que você lembre, começamos a viver em uma economia baseada no aluguel do que as pessoas produziam todos os dias. Qualquer tipo de conteúdo, seja texto, música, vídeo ou foto passaram a não pertencer diretamente à seus autores, nem às pessoas que consumiam esse conteúdo, mas aos cercadinhos digitais que mantinham modelos de negócio que estimulavam a criação de cada vez mais conteúdo.
Foi a partir daí que as BigTech fizeram dinheiro e começaram a direcionar o digimundo como temos visto na última década. A ideia é que conteúdo traz audiência e audiência traz dinheiro, de várias formas.
A próxima mudança
Basicamente a web que você navega hoje está baseada nos fundamentos da Web 2.0. Indústrias inteiras se transformaram para se adequar ao novo modo de operar. As empresas como Facebook, Twitter, Google e qualquer outra empresa que constrói e mantém um produto digital no mundo, criam serviços que centralizam não apenas conteúdo, mas a atenção e o conteúdo das pessoas. Isso simplesmente quebra o princípio básico de liberdade na internet de criar links para qualquer fonte existente no mundo online. Você não pode, por exemplo, publicar no seu Facebook a partir do seu Twitter. As duas plataformas são fechadas, restritas aos seus respectivos mundos. A Web antiga permitia isso com uma facilidade maior, exemplo, você manda email do seu Gmail para o Hotmail de alguém.
O Bruno Natal do Resumido (podcast maravilhoso), diz que hoje vivemos em uma web plataformizada e centralizada. E partir desse princípio de liberdade para criar, consumir e conectar conteúdos de forma livre é que vem a mudança da Web 3.0.
O objetivo da Web 3.0 é ser uma web descentralizada, onde a comunicação, publicação de conteúdo, transação de dinheiro, redes sociais, buscas e outras atividades que atualmente fazemos corriqueiramente por meio de serviços de empresas que centralizam essas atividades, poderão serem feitas e mantidas por comunidades livres e abertas, sem a grande influência de grande empresas.
Isso não quer dizer que essas empresas não irão ter suas próprias ferramentas como hoje, mas se a ideia pegar, a oferta de serviços e sistemas descentralizados confiáveis será melhor do que os serviços oferecidos pelos cercadinhos.
Os fundamentos da Web 3.0
Para que isso funcione muito bem, os fundamentos mais básicos da web deverão ser potencializados. Quando falamos sobre descentralização, isso quer dizer que muros serão quebrados e que seus dados, conteúdos, experiências, comportamentos e hábitos poderão estar em todos os lugares que você permita.
Existem três desses fundamentos que os “especialistas” estão dizendo que deverão ser vigiados:
- Privacidade: Quando tudo é descentralizado, ou seja, quando seus dados podem trafegar para lá e para cá de forma livre, é necessário que a privacidade seja mantida. É aqui que começa aquela conversa de um mundo mais criptografado, de forma que apenas “atores” autorizadas tenham acesso de leitura e escrita;
- Portabilidade: Nesse mundo descentralizado você precisa controlar em quais ambientes seus dados poderão estar. Você precisa ser dono real dos seus dados para movê-los de plataforma para plataforma. Isso significa que você não deve ser dono apenas dos seus dados, mas também do que os seus dados geram. Pensa assim: suas mensagens atualmente estão no WhatsApp, mas de repente surge uma outra plataforma maravilhosa que todos começam a usar, seria legal que suas conversas pudessem ser movidas para lá, e assim ninguém perderia o histórico de memes (e fakenews) trocadas na plataforma anterior. Ouvi Web Semântica?
- Segurança: Esse mundo descentralizado tem um potencial de ser enorme. De movimentos de conteúdo, valores financeiros e outros tipos de “coisas” são trafegadas de forma mais aberta e livre. Quanto maior esse ambiente, mais atrai a atenção de pessoas (e entidades) mal intencionadas. Por ser um ambiente descentralizado, um nível de segurança já é criado. Além disso há toda a cultura de julgamento público, além da potencialização de regulamentos e leis próprias para o mundo digital;
Valorizando bens digitais
Você deve ter acompanhado todo o hype em cima do NFT. Se não, procure aí no Google as notícias e se informe. NFT é só a ponta do Iceberg. Nós começamos a falar sobre segurança, criptografia e liberdade com as criptomoedas. Agora, com NFT, começamos a falar sobre colocar valor em “coisas” digitais. Isso muda tudo. Tudo mesmo.
Pagar por algo que não existe fisicamente sempre foi um tabu para o mundo digital. Cobrar para ler um blog, por exemplo… Pagar para receber uma newsletter? Comprar uma foto? Como você é dono de um meme? Até então, caiu na internet, é de todo mundo. Com o NFT isso começa a mudar.
Só para gente pensar em algo muito distante ainda: soluções como o NFT podem, por exemplo, ajudar a resolver uma série de problemas de direitos autorais. Poderão existir soluções que ligam permanentemente autores e suas obras, facilitando por exemplo o recebimento e o pagamento de royalties.
O valor no mundo digital é parecido com o valor percebido no mundo físico. Do mesmo jeito que há valor social envolvido ao comprar um artigo de luxo, também haverá esse mesmo tipo de percepção de valor quando esse artigo de luxo for digital. Nem precisamos falar de artigos de luxo, podemos ter a nossa marca pessoal em tudo o que fazemos no mundo digital, provando que aquilo foi realmente produzido por mim, seja um meme maravilhoso, um comentário em um blog ou um quadro famoso.
Muito mais para conversar
Existe muito mais sobre esse assunto que eu aprendi nos últimos dias. A coisa vai muito mais além do que eu poderia imaginar para um futuro que talvez nem esteja tão distante. Podemos falar sobre moedas virtuais, sobre interoperabilidade entre plataformas, podemos falar sobre utilização de propriedades virtuais em diversas plataformas (uma roupa comprada no LoL e sendo usada no Roblox, além do mais, aquela roupa é sua), revenda de propriedades digitais, intercâmbio entre propriedade virtual e física… por aí vai.
Eu queria viver nesse novo mundo doido só por curiosidade.
Referências:
- Muito além do NFT: metaversos, Web3 e o futuro digital - MIT Technology Review
- A decentralized web would give power back to the people online – TechCrunch
- O que é a Web 3.0 e como impacta empresas e clientes
- Web 3.0 – Wikipédia, a enciclopédia livre
- Guia das Big Techs para falar sobre ética da Inteligência Artificial - MIT Technology Review